Antes de começar a escrever este primeiro texto pensei em diversos temas para desenvolver, dos mais diversos tipos. Contudo, acredito que nada melhor do que, desculpem a redundância, começar pelo começo. Começar pelas mudanças que costumam acontecer na vida dos médiuns quando decidem assumirem-se como umbandistas e colocar em prática o compromisso assumido antes de estarem em Terra.
Quando ingressamos numa vida religiosa, a primeira coisa que descobrimos é que nada mais na vida será como era antes, principalmente quando levamos a religião a sério.
Essa transformação ocorre com qualquer religião, porém em algumas as mudanças ocorrem de forma mais brusca e intensa. É o caso da Umbanda.
Isso acontece por diversas razões, contudo algumas merecem destaque:
A primeira delas podemos dizer que está no modo de enxergar e até mesmo de encarar diversas situações do dia-a-dia, isso porque descobrimos que absolutamente tudo na vida tem um motivo para acontecer e este pode estar ligado a algo bom ou ruim que fizemos em uma vida passada e hoje devemos receber ou pagar.
Ou ainda que nascemos em determinada família e nos relacionamos com determinadas pessoas porque temos resgates a fazer, assuntos para terminar.
Aprendemos que antes de pedir qualquer coisa é preciso saber pedir, pois aquilo que pedimos, fazemos ou até mesmo pensamos pode afetar as pessoas que nos cercam e que aquele que planta o bem, o bem colherá, e o mesmo acontece com aquele que planta o mal.
Tudo isso sem falar que descobrimos a importância da gratidão, do respeito ao próximo e da humildade. Isso porque não há exceções: todos somos iguais.
Além do mais, o corpo que temos é apenas emprestado, devemos cuidar bem dele, pois a vida não acaba com a morte, nossa jornada não termina aqui e estar encarnado é, além de uma grande oportunidade, a maior dádiva que podemos receber do Pai Maior.
Descobrimos o valor das pequenas coisas e momentos da vida, e que, como disse uma vez um grande mestre, “onde há simplicidade é onde há mais força”.
Mas acredito que a mudança mais profunda é a que devemos, ou ao menos deveríamos fazer em nossa vida profana, pois as atitudes que tomamos durante os dias não só pode como irá afetar diretamente a nossa vida religiosa.
Isso porque todo médium de Umbanda é um sacerdote e o seu corpo é o templo (aqui não se discute incorporação ou grau de desenvolvimento). Dessa forma é preciso que se cumpram os preceitos básicos que nos são passados assim que ingressamos ativamente na religião, tais como ter uma boa alimentação, evitar pensamentos negativos, entre outros, para que os templos não desmoronem. Pois como seria possível praticar a caridade, que é um dos pilares fundamentais da Umbanda, sem estar em plenas condições físicas e psicológicas?
Uma das lições mais importantes que tive até hoje dentro da Umbanda foi a de que um bom médium não é aquele que faz uma boa incorporação, mas sim aquele que tem garra, comprometimento, entrega e fé.
Tem garra aquele que não desiste, aquele que tropeça e se mantém firme, que aprende com os próprios erros (sem repeti-los), que não tem medo, que encara as adversidades de cabeça erguida e segue em frente, afinal, filho de Umbanda balanceia, mas não cai.
Comprometido é aquele se dedica, que estuda, questiona, procura melhorar sempre, não somente dentro do congá, mas melhorar como pessoa, que segue os ensinamentos, que sabe o tamanho da responsabilidade de se usar o branco.
Entrega-se aquele que vive a Umbanda não somente dentro do terreiro, mas em cada hora do dia.
Por fim, tem fé aquele que tem a Umbanda enraizada no coração e não tem dúvidas.
Quando um novo membro ingressa no terreiro costumamos dizer que entrou mais um filho para a corrente, isso porque trabalhando todos juntos, formamos uma corrente de fé, de energia, de coisas boas e cada um de nós representa um elo dessa corrente. Daí vem a importância de cumprir os ensinamentos, de procuramos estar sempre em constante desenvolvimento e viver a Umbanda em todos os momentos, para que não sejamos elos fracos, para que a corrente não se quebre e, principalmente, para que possamos atingir, com a força da união e da fé de todos, o objetivo maior da nossa religião: a prática da caridade, do bem.
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